A manhã agradável do domingo, 10 de outubro, foi o início mais que apropriado para um visita à São Luiz do Paraitinga. A cidade, como sabemos, sofrera enorme perda com a enchente ocorrida em janeiro que destruiu grande parte de seu patrimônio histórico e fez ruir a igreja matriz centenária. O passeio, que nasceu de um convite para uma visita ao alambique do Sítio Mato Dentro, de propriedade de um companheiro rotariano, era também uma oportunidade para rever a cidade e sua gente, em condições menos dramáticas do que aquelas experimentadas nos dias seguintes à catástrofe, quando alguns rotarianos lá estiveram prestando solidariedade e ajuda material aos desabrigados. Daquela vez a desolação e a tragédia refletiam em cada rosto, e, em cada esquina montanhas de destroços e lama dava a dimensão da luta que viria pela reconstrução de sua cidade e de suas vidas.
A reconstrução já aconteceu. Nove meses depois da tragédia assistimos a uma cidade que renasceu. Pelas ruas pode se sentir a agradável presença do orgulho de uma comunidade no cheiro da tinta fresca, do concreto novo e do tijolo. A cidade brilha como nova, mas com a personalidade que só o casario antigo permite. Onde o trabalho é mais lento e o restauro mais exigente observa-se o cuidado em preservar cada tijolo, parede ou telhado que resistiu à fúria das águas. A nova igreja será levantada sobre os alicerces da antiga, que permanecerão intocados como testemunhas do respeito que um povo deve guardar pelo seu passado. E não há gente que respeite mais o passado que os filhos de São Luiz do Paraitinga. Exemplo disso foi o ensaio da Congada que assistimos na Casa da Amizade. Ali músicos e cantores, velhos, jovens e crianças, contribuem com raro talento na preservação das nossas raízes culturais. Na tarde daquele domingo, depois de um “leitão à pururuca” acompanhado de uma cachaça Mato Dentro, podia se ouvir vindo da praça central uma algazarra indistinta. Era a festa do Dia das Crianças. Não poderia haver imagem mais expressiva de um renascimento que uma praça abarrotada com centenas de crianças em alegre comemoração, indiferentes às cicatrizes que a tragédia deixou em toda parte. Há muito ainda por ser feito, mas a cidade e seu povo já estão de pé. A noite próxima nos colocou de volta na estrada, mas com o sabor de um breve retorno.
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